Por Alicinha de Caby
O primeiro texto deste espaço foi escrito sob encomenda – dele mesmo – quando ainda habitava este mundo esquisito que chamam “dos vivos”. Como vivo para mim ele sempre está e assim será, é a ele a quem mais recorro, seja para conselhos guardados, seja para destinar meus escritos que não são de trabalho.
Abaixo, o prefácio do último livro que ele produziu e toda a explicação de como foi doído rabiscar cada linha. Escrito em 2018, penso que é por ele que preciso começar essas novas cartas.
Escrever para o meu painho sempre foi hábito, por todos os meios, das cartas aos e-mails e mensagens de WhatsApp. Até na nossa música (‘Ai que saudade d’ocê’, de Vital Farias) há parte disso, como título deste blogpost).
Prefácio do Azougue 6
Começo o prefácio dizendo que ele vai fugir às regras de etiqueta e modos de fazer das apresentações que habitam os livros para, tal qual o autor desta obra, caminhar na contramão de padrões. Até chegar o momento de serem lidas, essas linhas largaram pesadas como tamancos de madeira. Agora, buscam cortar a faixa de chegada com a leveza daquele ser singular que em tamancos se equilibra para estar em sintonia com a sua presença camarada, aveludada e de impacto ‘azougal’.
Cá eu estou para falar dele, daquele que desde os tempos ‘do bumba’ é o meu assunto preferido. Foi ali pelo meio de 2017, antes de acontecimentos por demais esquisitos começarem, que ele me convidou para escrever o prefácio deste livro. Com a mesma naturalidade de pertencimento transferido que, mais de 25 anos antes, todo domingo ele me convidava para cantar – muito mal – “Ai que Saudade de D’ôce”, música de Vital Farias também famosa na voz de Geraldo Azevedo, nos microfones do seu programa de domingo, “O som do Caby”. O modo como eu falava “‘tabaiar’ é minha sina” parecia para painho o trecho mais incrível já cantado por alguém nesse mundo. Ele continuava rindo disso mesmo com os meus 30 anos batendo à porta. Com dificuldade, cantou essa mesma canção comigo até os últimos dias, durante visitas na UTI, e chegou a pedir que eu continuasse cantando (ali, não profissionalmente, acredito).
Mas voltando ao prefácio, painho me convidou, eu respondi ‘sim, claro’ e, embora dissesse que tinha começado a escrever baseando-me em outros textos já feitos para o meu maior afeto, posterguei essa escrita para que ele a visse aos 45 do segundo tempo e a entendesse como uma declaração de amor encartada em seu livro. Menos o que o Azougue.com traria e mais quem ele é para mim e para uns tantos que conheço. Tenho perguntado aos céus o motivo de o convite vir logo para este livro, algo que eu poderia ter feito em edições passadas. Achei que não conseguiria fazê-lo, já que não terei a sua leitura e crivo formais, aqui, e a revisão cheia de garranchos da letra indecifrável que fugiu da caligrafia escolar. Tenho escrito em locais, horários e humores diferentes, mas não vou desistir, assim como não vamos desistir de lançar a nova edição do Azougue que, com exceção da homenagem inicial, estava toda pronta pelo seu criador. Com o empenho dos e das camaradinhas que aqui estão para honrá-lo e a permissão de Deus, em breve estas páginas ganharão o destino sonhado.
*Sobre o prefácio, se o pensamento escrito parecer atordoado é sinal que o texto, pelo menos, se comporta bem real.